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Como os videogames podem ajudar jogadores LGBTQ+ a se sentirem inclusos


A representação virtual dos jogadores LGBTQ+ pode ajudar na autoestima, segundo uma pesquisa da Universidade Stanford.

Inclusão

O beijo lésbico foi um acidente. Em 1999, desenvolvedores do jogo “The Sims” divulgaram um protótipo do título em um estande da principal feira mundial de games e tecnologia, a Electronic Entertainment Expo (E3). Portanto, no jogo, os jogadores simulam uma vida virtual e constroem seu próprio boneco, conhecem amigos e namorados, e criam um lar. Bem como Patrick Barrett, um homem gay, treinou a inteligência artificial que determinou a gama de relacionamentos amorosos dos personagens do game.

Em muitos casos, esses games têm ajudado muitos jogadores LGBTQ+ a se sentir contemplados pela primeira vez.

Representação digital

A capacidade de se expressar por meio de um videogame pode ajudar uma pessoa LGBTQ+ a se sentir mais segura na vida real. Muito disso se deve ao Efeito Proteu. Batizado com o nome da deidade da mitologia grega conhecida pela fluidez de sua forma. O Efeito Proteu ocorre quando pessoas em ambientes online — videogames, salas de bate-papo, etc. — começam a adotar características de suas representações no mundo virtual. Assim como o mitológico Proteu é capaz de assumir várias formas, os jogadores também podem experimentar novas identidades, novos rostos e novas vidas.

Em 2007, o Departamento de Comunicação da Universidade Stanford começou a estudar como o Efeito Proteu afeta os jogadores. Os pesquisadores Nick Yee e Jeremy Bailenson conduziram dois experimentos para observar como a aparência física dos avatares influencia — e se influencia — o comportamento dos jogadores no game. No primeiro experimento, jogadores classificaram diferentes avatares de acordo com o quanto os consideravam atraentes. Então, cada participante ganhou um avatar para interagir no ambiente virtual, onde podia conversar com outro avatar. Os jogadores com os avatares qualificados como mais atraentes agiram com mais confiança no game do que os demais participantes: caminhando mais próximo a outros avatares no ambiente de realidade virtual, revelando mais informações pessoais e puxando mais conversas.

No segundo experimento, Yee e Bailenson também analisaram se um jogador mudaria de comportamento em razão da aparência física de seu avatar. Dessa vez, os voluntários participaram de uma negociação no ambiente virtual. Os jogadores com avatares mais altos se mostraram mais propensos a exigir mais dinheiro. Enquanto jogadores com avatares mais baixinhos se mostraram mais inclinados a aceitar quantias menores em suas negociações.

Esse estudo teve como foco a aparência física dos avatares, mas pesquisadores continuam a estudar as maneiras com que características mais abstratas, como identidade de gênero, sexualidade e personalidade, também são capazes de afetar o comportamento dos jogadores nos games e, às vezes, também na vida real.

Efeito Proteu

O Efeito Proteu é um tipo de profecia psicológica autorrealizada. Muitas pessoas LGBTQ+ querem experimentar diferentes tipos de expressões de gênero. Mas essas pessoas podem se sentir inseguros em usar maquiagem ou um penteado diferente em público, em razão de sua expressão de gênero, de acordo com a U.S. Transgender Survey de 2015. Cerca de 46% das pessoas LGBTQ+ não se assumem em seus locais de trabalho, segundo um relatório de 2018 da Human Rights Campaign Foundation.

Contudo, as pessoas queer podem se sentir mais à vontade com sua identidade quando possuem modelos LGBTQ+ a seguir, que podem criar para si mesmas nos videogames. O Efeito Proteu pode ajudar jogadores queer a se sentirem mais confiantes depois que eles vislumbram seu ser ideal como um personagem de RPG ou em um simulador de vida, mesmo que temam assédio e discriminação em público. Kaehla Michele Bryant, uma outra gamer, reconheceu o Efeito Proteu em ação em sua própria vida, enquanto foi buscando relacionamentos LGBT+ nos videogames. Quando criança, Kaehla aceitou que era queer quando jogou “The Sims”. No game, Kaehla pôde fazer o que nunca pensou ser possível: ter uma namorada.

“Consegui aceitar que não sou nem um pouco heterossexual”

“Isso me abriu o caminho para explorar a atração que sentia em relação ao meu próprio gênero sem ter de ‘me assumir’.”  afirmou Kaehla.

Para que gamers LGBTQ+ se beneficiem do Efeito Proteu, precisam ser capazes de se identificar com os personagens e relacionamentos queer dos games que jogam. Conforme Kaehla jogava “The Sims”, por exemplo, ela passou a se identificar com seu personagem LGBTQ+. Dessa maneira, Kaehla foi ficando mais à vontade com a ideia em se relacionar amorosamente com pessoas do mesmo sexo na vida real.

Munddo LGBTQ+

Quando o mundo real fracassa em conceder às pessoas LGBTQ+ a oportunidade de expressar seu gênero e sua sexualidade, o mundo virtual pode virar um santuário. Pessoas que podem expressar abertamente sua identidade são menos propensas a ficar deprimidas, de acordo com um estudo de 2013 publicado pela revista The Atlantic, e tendem a recorrer menos ao suicídio do que pessoas que ainda não se assumiram.

E quando os gamers LGBTQ+ não conseguem se expressar em suas vidas cotidianas, podem ser salvos pelos avatares inclusivos, como dos games favoritos de Arnold, ou nos relacionamentos homossexuais virtuais que confirmaram a Kaehla sua sexualidade.