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Scape Goat Simulator


Após mais um ano recheado de ataques a tiros e atentados terroristas ao redor do mundo os dedos novamente miram para os games.

Não será a primeira vez, e nem a última, que a humanidade diante do fracasso de gerenciar suas relações sociais aponta para a cultura, a religião, a arte, a evolução científica e tecnológica como causa daquilo que sistematicamente insiste em varrer para debaixo do tapete, mal sabem eles que a relação de causa e consequência está invertida. 

Para mim é inevitável, ao ver e perceber essas atitudes, lembrar do livro “O Nome da Rosa” de Umberto Eco. Pelas páginas desse clássico o autor retrata o século XIV através de um mosteiro beneditino onde cerceamento à cultura e à arte foi a forma encontrada para “consertar” a heresia presente nos habitantes locais. E de fato, temos muitos outros exemplos – mais verossímeis e menos lúdicos – sobre como a sociedade, deparando-se com a verdade inconveniente, fracassa ao apontar para aquilo que é relativo e suscetível à interpretação. 

Hoje não vivemos mais no século XIV, As Cruzadas e a Idade Média ficaram para trás, mas a prática de apontar o dedo às artes continua presente nos confins do âmago de quem não tem coragem de refletir sobre si mesmo, contudo agora o alvo são os games. Desde Columbine, atribui-se aos games a capacidade de influenciar as atitudes daqueles que orquestram atrocidades sem fins de terrorismo religioso ou qualquer outra forma de terror, justamente porque a resposta é deveras intragável. 

Verdade seja dita, toda arte tem como ponto de partida instigar o pensamento, aflorar a reflexão e o contraditório, e influenciar – porque não – aqueles que se sentem receptivos à ela. Outra verdade é que a arte – seja ela expressa em games, quadros, livros, músicas, filmes e etc. – acumula um total de zero mortes desde que a criamos, e esse fato não mudará. Pensar que a arte é capaz de guiar as pessoas à tais atrocidades é pensar como os monges do século XIV. A resposta vem dos lares, da criação dos pais, da forma como os jovens percebem a sociedade e como são orientados a interagir com ela. 

É época de educar pelo tablet, é época do merthiolate que não arde, é época de criarmos covardes. Jovens que não cedem lugar ao idoso no ônibus, jovens que agridem professores, jovens que não respeitam os pais, jovens que desprezam minorias, jovens que vão atirar em outras “Columbines”. 

Caso seu filho um dia seja protagonista de atos como esses, saiba que não foram os games os culpados, foi você, foi sua criação ou preguiça de fazê-la. 

Luiz R S Martins