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A maior parte das pessoas tem um entendimento bem raso sobre o que é o autismo, eu era uma dessas pessoas. Quando conheci minha esposa, passei a ter um contato bem mais direto com essas pessoas “especiais”, pois ela tem um irmão autista, o que mudou vários dos meus conceitos sobre o autismo. O autista nem sempre é aquela pessoa superinteligente, mestre de matemática e sem traquejos sociais que vemos nos filmes. 

Na verdade, existem tipos e níveis diferentes de autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que faz com que os sintomas se manifestem com maior ou menor intensidade. Assim, alguns autistas podem apresentar dificuldades de aprendizado e maior nível de dependência, enquanto outros podem ter uma vida relativamente normal, mas ainda sentirem dificuldade de socialização.

AutismFather conhecido também como Stuart Duncan

Além das adversidades inerentes ao próprio transtorno autista, os indivíduos com autismo e suas famílias ainda têm que enfrentar o preconceito e a intolerância das pessoas que desconhecem o transtorno. Conhecendo um pouco sobre autismo e sabendo as dificuldades que as famílias enfrentam, fui imediatamente atraído pela palestra de Stuart Duncan, no TED, “Como eu uso o Minecraft para ajudar crianças com autismo”.

Duncan, que é autista e tem um filho autista, ficou conhecido na internet como AutismFather e fundou em 2013 o AutCraft, um mundo no Minecraft voltado para crianças com autismo. A ideia surgiu quando Duncan notou que, por meio de redes sociais, pais de autistas procuravam outros pais para que os filhos pudessem jogar juntos, pois nos servidores públicos as crianças autistas eram insultadas de formas horríveis, hostilizadas e chegavam a não querer mais jogar e se divertir. 

AutCraft – um lugar seguro

Assim, ele criou um servidor de Minecraft, que completou 7 anos no dia 23 junho de 2020. Construiu uma pequena vila com algumas ruas e uma grande placa de “BEM VINDO”, de modo a deixá-la convidativa. Com tudo pronto, Duncan postou no seu Facebook uma mensagem para que as pessoas que tivessem interesse assinassem uma lista, somente as pessoas que ele aprovasse poderiam entrar no servidor, a ideia era monitorar o servidor para que nada desse errado. O que ele não esperava era que em 48 horas receberia 750 e-mails, ele mesmo diz que não tem essa quantidade de amigos no Facebook. E hoje nessa lista ele tem mais de 8000 inscritos de todo o mundo.

O mais interessante não é o tamanho da comunidade que ele conseguiu reunir, mas sim os efeitos desse ambiente seguro para que essas crianças possam se divertir. Ele recebeu diversos feedbacks de pais falando que seus filhos que não conversavam passaram a conversar, inclusive brinca, “tá certo que só falavam de Minecraft mas pelo menos falavam”. 

No AutCraft, ao invés da recompensa normal que temos nos jogos comuns, se completa uma tarefa recebe um prêmio, e quanto mais difícil é essa tarefa melhor é o prêmio, ele buscou formas diferentes de recompensar os players, como “Player da semana” ou “PSLs” que é Pego Sendo Legal, também premiam os players com base nos atributos que apresentam, como “Parceiro” e “Ajudante Junior”, fazendo assim que os players se ajudem e se comuniquem para melhorar e aproveitar o game. 

Duncan celebra o efeito positivo que o servidor tem na vida dessas crianças, que se sentem seguras, livres para serem elas mesmas, apoiadas e encorajadas. Esse grupo de pessoas que sentiram como é ser excluído e odiado, simplesmente por existir, se encontrou em uma comunidade feita especialmente para elas e, por isso, não têm mais medo de se expressar. E, finaliza: “A única coisa que quero que levem de hoje é que, não importa pelo que uma pessoa esteja passando hoje, se está sendo intimidada na escola ou em casa, se está questionando sua sexualidade ou mesmo seu gênero, o que acontece muito na comunidade autista, se está se sentido sozinha ou mesmo com tendências suicidas, você deve viver de forma que essa pessoa sinta que pode falar com você”.